A Cultura no lixo Versão para impressão
Sexta, 27 Setembro 2019 07:51

cultura20190926Dia após dia vamos entendendo o valor que o atual executivo municipal atribui à área da Cultura. Se por um lado se esbanja dinheiro e recursos logísticos em festas, festinhas e festivais com valor “cultural” muito questionável, paulatinamente vão-se cedendo espaços potencialmente importantes para uma distribuição equilibrada da oferta cultural da cidade à voracidade da especulação imobiliária (veja-se por exemplo a recente autorização de demolição do velho Cinema Imperial-Pathé para dar lugar a um hotel).

Claro que Medina e o seu executivo podem defender-se alegando que abriram teatros, galerias e todo um rol de novos equipamentos. Abriram é certo, e concessionaram também, mas nem sempre a agentes imbuídos de responsabilidades de serviço público, como é o caso das Carpintarias de São Lázaro, junto a São José, que passa mais tempo ao serviço de festarolas de empresas do que a promover acontecimentos culturais que pudessem servir os cidadãos.

A tudo isto, poderíamos relembrar a vergonha que é o processo do Teatro Municipal Maria Matos – encerrado há mais de um ano – ou a leviandade com que a Câmara nos últimos anos se revela incapaz de entender a cidade como um todo. Aliás, o reflexo desta política de desastre, que temos ao longo dos últimos meses denunciado, está num cada vez mais evidente afunilamento da oferta cultural da cidade nos locais onde quase só há turistas, porque, residentes, nem vê-los.

Curiosamente, o estado da política cultural da cidade encontrou a sua metáfora perfeita na recente instalação da Direção Municipal de Cultura no Complexo da Boavista. Para além do atabalhoamento com que a passagem do Palácio do Machadinho para o novo local foi conduzida, os trabalhadores estão hoje instalados paredes meias com contentores atulhados de lixo orgânico. A isso, e devido aos obscuros interesses de despejo do Departamento de Direitos Socias do Campo Grande, dezenas de trabalhadores parecem empilhados em salas minúsculas, pouco arejadas e, em muitas delas, sem qualquer meio de climatização.

Os problemas, garante o diretor municipal, serão resolvidos em breve. Promessa que, retrospetivamente, parece ridícula tendo em conta que o Palácio do Machadinho foi vendido há mais de dois anos e a saída da DMC era inevitável a qualquer momento. Portanto, se em mais de dois anos esta mudança foi o que se sabe, o que nos poderá levar a crer que muito em breve tudo se resolverá?